quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Quando ele me penetra

O dele foi o primeiro. No meu cu. Não sei o tamanho exato, mas é  grande — do tamanho apropriado. De largura mediana, nem muito fino, nem muito grosso. Lindo. Minha bunda, carnuda e envolta por tecidos rígidos.


 Vinte e cinco anos de piruetas como bailarina. Desde os 4 anos, quando declarei guerra a meu pai pela primeira vez. Girar as pernas para fora dos quadris fortalece o assoalho pélvico como um sacarolhas. Trabalhei minhas entranhas a vida inteira, de pé naquela barra de balé. Agora está tudo sendo destrabalhado. O pau dele, minha bunda, libertando‐se. Divino.



Quando ele me penetra eu deixo sair a tensão, milímetro por milímetro, puxando, apertando, segurando. Sou viciada em resistência física extrema, uma maratona de intensidade libertadora. Solto meus músculos, meus tendões, minha carne, minha raiva, meu ego, minhas regras, meus censores, meus pais, minhas células, minha vida. Ao mesmo tempo puxo, sugo e o trago para dentro. Abrindo e sugando, uma coisa só.


Bem‐aventurada, aprendi, ao ser sodomizada, que esta é uma experiência de eternidade num instante de tempo real. A sodomia é o ato sexual de confiança final. Quero dizer, você realmente pode se machucar — se resistir. Mas se deixar o medo para trás, literalmente ultrapassando‐o, ah, que felicidade se encontra do outro lado das convenções. A paz que se encontra além da dor. Ir além da dor é a chave.


 Uma vez absorvida, ela é neutralizada e permite a transformação. O prazer em si é uma mera absolvição temporária, uma distração sutil, uma anestesia enquanto se está a caminho de algo maior, mais profundo, mais embaixo. A eternidade fica muito, muito além do prazer. E além da dor. A borda do meu cu é o horizonte da sexualidade, a fronteira além da qual não há escapatória. Não para mim, pelo menos.

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