quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O Rufião

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Não existem receitas para comer uma mulher. Sempre tive em baixa conta os cretinos de ambos os sexos que escrevem em revistas especializadas em fofocas, femininas e masculinas, e gostam de inventar regras para seduzir e comer bem o seu parceiro ou parceira.
Vou lhe contar uma história de cavalos. Meu pai possuía uma fazenda, no vale do Paraíba, onde criava cavalos. Muitas vezes precisavam cruzar uma égua de boa linhagem com um garanhão também com um bom pedigree, mas o problema era que o garanhão de ascendência nobre não despertava o desejo da égua. Ou tinha a agenda cheia ou não podia, por qualquer motivo, perder tempo com preliminares. Então colocávamos perto da égua um tipo de cavalo conhecido como Rufião, um garanhão do qual não se exigia nem perfeição física nem pureza de sangue que atestasse sua ancestralidade ilustre, mas sim a capacidade de despertar um desejo sexual intenso na égua. O garanhão plebeu e a nobre égua ficavam separados por uma cerca, para que nenhum contato, digamos morganático, ocorresse entre eles. Logo que o Rufião estimulava o cio da égua, colocava-se nela uma peia, uma espécie de arreio de charrete do qual saiam duas grossas cordas que eram fixadas em pulseiras presas nos cascos da égua, para que assim subjugada não pudesse rejeitar e coicear o garanhão de luxo, quando ele fosse fazer a cobertura. Quase sempre o aristocrata era ajudado pelos peões na introdução do seu membro no corpo da égua, que fora tornado aquiescente e fremente pelo Rufião.
Acontece que, em muitas ocasiões o Rufião (apodo injusto para animal de tanto caráter), que despertava o cio na égua porque fazia a fêmea sentir por ele a mesma lubricidade obsessiva que sentia por ela, impelido pela sua lascívia arrebatadora, pulava a cerca que os separava e os dois animais, e, contra todos e sem a ajuda de ninguém, satisfaziam a paixão proibida que os consumia. Vem daí a expressão “pular a cerca”, que você deve conhecer, mais comum no interior do país, que indica um homem ou mulher casada que se engaja em atividade extraconjugal.
Dessa história eu extraí os seguintes ensinamentos:
O primeiro: para seduzir e comer a mulher que você ama é preciso desejá-la como um garanhão preso na cerca, e se ela não pular a cerca antes, as mulheres muitas vezes pulam a cerca antes, cabe a você pular, arruinar-se por ela, levar coices por ela, bater com a cabeça na parede por ela.
Segundo conselho: as mulheres gostam de falar, não pare de conversar com elas, ainda que muitas vezes o que você fala seja na verdade um exercício de comunicação onfalópsica como no meu caso.
Ultimo conselho: quanto mais devassidão no quarto, mais respeito, carinho e cerimônia na sala e na cozinha.

Rubem Fonseca,
que, não por acaso, é meu escritor preferido,


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